Uma ode ao que fica depois do que passa
Ontem fui ao Restaurante Arturito achando que ia me emocionar, não me emocionei.
Também não fiz escândalo, aproveitei o que dava. Ambiente maravilhoso e aconchegante, cocktail de camarão excelente (não igual ao dos anos 90, infelizmente) e creme de milho com saladinha de couve. Ambos 10/10. Acho que o que me incomodou não foi o restaurante, foi a expectativa. A expectativa que projetei foi alta demais, acho que a gente espera demais. Espera que o outro adivinhe e que o gosto dure mais.
Ontem, comemoramos o Dia dos Namorados. Uma escolha pensada, porque eu gosto mesmo é de tudo com tempo. Saímos às 11h, e só voltamos pra casa quase 12 horas depois. Levemente corados, do frio, das bebidas e das risadas. Que dia senhores, que dia.
Voltei para a minha amada Feira da Benedito Calixto. Sempre associei essa feira a memórias, porque é o que acabamos por encontrar por lá. É um dos lugares que mais gosto de ir, fiquei um tempo sem ir, não trazia boas lembranças por relações que eu não deveria ter misturado com lugares que amo. Faz parte, voltei e fui capaz de construir novas memórias, agora só preciso afundar as outras. Vi um livro com uma capa lindíssima, uma índia com a frase que dizia algo como “Sempre estive, estou e sempre estarei”. E fiquei com aquilo na cabeça: o que da gente fica nos lugares que a gente não permanece?
Tenho pensado muito sobre o que permanece.
As coisas que ficam quando a euforia passa. As escolhas que sustentam a vida, não só a alimentam. E aí me veio a mente um vídeo que vi no TikTok, de um cara dizendo que a segunda metade da vida é para curar a primeira. Parei. Repeti. Escrevi no bloco de notas. Porque é isso. É exatamente isso. A primeira metade a gente corre, cai, tropeça, faz escolhas por sobrevivência ou por medo. A segunda é quando a gente tem a chance de fazer diferente, mas só se tiver coragem de encarar o que veio antes.
E é nessa hora que o casamento vira um assunto sério de verdade.
Não como uma instituição, mas como escolha. Vi outro vídeo dizendo que a coisa mais importante da sua vida não é sua carreira, é com quem você se casa. Porque é com essa pessoa que você vai dividir os silêncios, os fracassos, os inícios e os finais. E é com ela que você vai negociar quem você pode ser depois dos 30. E, sinceramente, eu não sei como alguém ainda subestima isso.
Aliás, um outro vídeo dizia sobre não expor nada do qual não esteja preparado para a volta. Porque vulnerabilidades não é performance, é intimidade. E tem coisas que eu só vou dizer quando estiver pronta para a volta, a volta que a exposição traz, os julgamentos, as interpretações rasas. Tem coisa que a gente ainda está vivendo. E viver exige silêncio.
Decidi que não vou a Paris, mesmo com saudade. Vou para a Itália. Passar pela Espanha, provável, mas meu destino é italiano. Um sonho antigo que fui adiando como quem deixa para depois o que deveria ter sido sempre agora. Setembro está logo ali. E eu não quero deixar mais nenhuma viagem para um ano indefinido.
E já que estamos falando de escolhas que fazem bem, algumas dicas que mudam o dia:
Se você precisa de um óculos novo — ou de uma nova forma de se ver —, vá conhecer o Eran Oliveira. Ele faz óculos personalizados de um jeito que é quase terapêutico. Ir até ele é mais do que uma consulta: é um divã, uma jornada de imagem, um “quem você quer ser agora?” em forma de lente. Recomendo de olhos fechados. Ou melhor, bem abertos. Tipo divã com estética. E se disser que veio por mim, ele não cobra a consultoria, só o que comprar.
Massas? O melhor Cacio e Pepe que já comi na vida fica no Bottega Bernacca. E olha que eu sou criteriosa.
Os pães da Padaria Nema são um absurdo. O sourdough já vem fatiado e custa R$27. Entrega no iFood, um luxo democrático.
E, para fechar, ainda que eu tenha saído um pouco decepcionada, o Arturito da Paola Carosella continua sendo um lugar que vale pela experiência. Principalmente se você for com pouca pressa e pouca expectativa.
Escolher o que fica, deixar ir o que não serve. Será que maturidade é isso? Entender que as coisas boas não precisam ser, necessariamente, espetaculares. Elas só precisam ser verdadeiras. E, no meio de tudo, ter coragem de seguir dizendo não ao que não encaixa, mesmo quando parece quase bom ou quando a tradição diz que é obrigatório. Porque quase bom, quando você sabe o que merece, ainda é pouco.
Com carinho,
Ágatta
Porque algumas coisas só fazem sentido quando a gente escreve.